quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sobre a Meia-entrada

Essa polêmica sobre o projeto de lei que tramita no Senado, referente à meia-entrada, pode parecer, à primeira vista, uma discussão singela sobre política e formação cultural dos nossos estudantes, e que tem várias partes envolvidas.

Produtores de teatro e atores defendem que a meia-entrada reduz o faturamento dos espetáculos, e que por isso o preço do ingresso é tão alto.

Donos de cinema argumentam que existe muita falsificação desse documento, o que torna “incontrolável” esse benefício.

Os estudantes ponderam que, sem a meia-entrada, não terão mais como freqüentar eventos, cinema ou teatro. Já as entidades estudantis reivindicam o direito de emissão das carteiras de estudante como única fonte de receita para suas atividades.

Mas, afinal, por que tanta discussão?

É simples: do total de público que freqüenta cinema, 58% têm entre 26 e 30 anos – exatamente o público estudante. Número, esse, que provavelmente é semelhante ao de espetáculos teatrais e outros eventos. Qualquer possibilidade de redução de desconto a esse público significaria, portanto, forte aumento de receita.

Outro aspecto relevante é que o Brasil tem hoje, só no ensino médio e universitário, cerca de 13 milhões e meio de estudantes. Imaginando-se que a emissão de cada carteira estudantil custe 30 reais, chegaríamos a um negócio que vale nada menos que 405 milhões de reais, só no fornecimento desse documento.

O projeto que vai a votação no Senado, por sua vez, limita a 40% do total de ingressos de um espetáculo o que deve ser vendido como “meia-entrada”. Mas como ter a certeza de que essa cota será cumprida e de que o direito dos estudantes será preservado?

Enfim, parece-me que muita gente vai sair ganhando com esse projeto, e, provavelmente, não serão os estudantes.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sobre Fusões de bancos

Dias atrás foi a fusão entre o Itaú e o Unibanco. Ontem, o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa.

Isso, na linguagem empresarial, chama-se “concentração de mercado”, e é uma realidade mundial. Num mercado que não cresce como no passado, a saída para aumentar os lucros é diminuir o número de concorrentes.

A concentração bancária no Brasil já mostra alguns números do seu poder: hoje 75,2 % dos ativos do sistema bancário do país estão nas mãos de apenas cinco instituições.

Além de criar gigantes de mercado, que impacto isso traz a mim ou a você?

É simples! O lucro dos bancos vem, basicamente, de duas fontes: empréstimos e serviços bancários, que são, entre outras coisas, a cobrança de tarifas de cadastro, renovação de cadastro, cartão, cheque, cheque especial, saques, depósitos, extrato, transferência, DOC, TED e operações de crédito.
Num mercado com muitos concorrentes, os bancos conquistam clientes, então, com tarifas e taxas menores e com melhor atendimento.

Assim, diante dessa concentração de mercado, eles podem ficar mais à vontade para cobrarem mais pelos serviços e oferecerem um atendimento não tão qualificado, pois o risco de nos perderem como cliente fica muito, muito pequeno.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sobre o Dia da Consciência Negra

Zumbi foi o líder do Quilombo dos Palmares, maior ícone da resistência negra ao escravismo e de sua luta pela liberdade. Fora assassinado e decapitado no dia 20 de novembro de 1695, e sua cabeça foi exposta na Praça do Carmo, em Recife. A data da morte de Zumbi foi, então, escolhida para comemorar o “Dia da Consciência Negra”.
Qualquer discurso que se faça hoje corre o risco de parecer piegas ou de reforçar um preconceito disfarçado.
Mesmo assim, de minha parte, vou usar este dia para refletir sobre a opressão imposta não só aos negros, mas a qualquer povo que, nos dias de hoje, ainda vive escravizado. Vou aproveitá-lo, também, para reler Darcy Ribeiro, que diz que “como povo estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização mestiça e tropical, melhor porque incorpora em si mais humanidades, mais generosa porque está aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque está assentada na mais bela e luminosa província da terra”.

Sobre resultado de consulta acerca do que fazer com o 13º. salário

Os resultados abaixo mostram, em primeiro lugar, “juízo”, uma vez que as pessoas pretendem usar o 13º. salário para quitar dívidas ou fazer economias. Algumas delas, inclusive (com muita sabedoria), sugeriram guardar esse dinheiro para pagar o IPTU / IPVA e outros “visitantes indesejados” que aportam sempre em nossas casas no início do ano.

Ao que parece, a perspectiva de crise ainda não contagiou a maioria dos moradores de nossa região; 81 % acreditam em um 2009 ainda melhor que 2008. E se houver crise, temem a inflação e o desemprego.

Os dados apontam que, em média, uma em cada quatro pessoas já reduziu alguma despesa no último mês. Se separarmos os dados entre os mais e os menos favorecidos, perceberemos que as classes C e D reduziram seus gastos com o lazer, o cartão de crédito e o telefone, enquanto as classes A e B reduziram as “baladas” e os itens supérfluos.

Por fim, parece que o espírito natalino não irá influenciar fortemente a alegria de presentear. No entanto, prepare-se! A pesquisa mostra que você receberá, no máximo, um presente igual ao que recebeu no ano passado.

Consulta a 100 pessoas - classes A/B/C/D
Sorocaba / Itu
Data: Segunda e Terça-feira (17 e 18/11/2008)
1. O que pretende fazer com o 13º. salário?
41% Quitar dívidas assumidas
34% Guardar/Poupar
26% Gastar
1.1 Em que pretende gastar?
4% Dar entrada em compra de carro/moto
4% Reforma/Construção
13% Viajar
2% Fazer cursos/Educação
11% Outros (Pagar IPVA e IPTU/Roupas)

2. No Natal, pretende...?
12% dar mais presentes este ano do que deu no ano passado
34% dar menos presentes este ano do que deu no ano passado
40% dar a mesma quantidade de presentes

3. Pretende gastar com presentes de Natal?
13% Mais que no ano passado
45% Menos que no ano passado
41% Igual ao que gastou no ano passado

4. Qual sua expectativa para 2009?
11% Vai ser igual a 2008
81% Vai ser melhor que 2008
8% Vai ser pior que 2008

5. Como você acha que a crise econômica mundial pode afetar a sua vida?
21% Desemprego
19% Falta de crédito financeiro
68% Inflação de preços
6% Outros

6. Você já cortou alguma despesa, neste último mês, por causa das notícias de crise?
75% Não
25% Sim

Qual?
4% lazer
3% supérfluos
3% crédito
3% despesas
2% baladas
1% TV a cabo
1% financiamento (casa)
1% telefone
1% combustível
1% supermercado
1% internet

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sobre o programa Emprega São Paulo, do Governo do Estado


Louvável é a iniciativa do Governo do Estado de criar um sistema para intermediar a relação entre as vagas oferecidas pelo mercado e as pessoas que procuram emprego.

No entanto, sabemos que se trata de uma medida apenas paliativa.

O problema real do mercado de trabalho não se resume à comunicação das vagas, mas, sim, a uma legislação trabalhista que com seus encargos – INSS, SESI, SENAI, SEBRAE, INCRA, Salário Educação, Seguro Acidente, FGTS, Férias, Repouso Semanal Remunerado, Feriados, Aviso Prévio, Auxílio Doença, 13º salário, Multa rescisória, Adicional, Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, contribuições para o PIS/PASEP, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, COFINS, IPI e Contribuição para a Seguridade Social – acrescenta 112% ao custo de cada empregado contratado. Ou seja, você contrata um funcionário e paga dois.

Outro problema é a qualificação. Se por um lado tem muita gente procurando emprego, o que se vê, por outro, é que grande parte dessa mão-de-obra desempregada não é ou está qualificada.

Enfim, só para se ter uma idéia: dados do ano passado mostravam que mais de 20 pessoas chegavam, por dia, a Sorocaba para trabalhar. Todo esse contingente é importado porque não temos mão-de-obra qualificada e disponível para atender às vagas oferecidas.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre a crise - 11/11/2008

Hoje pela manhã, tive a curiosidade de contar as notícias que, nos jornais, falam sobre crise. Contei, na Folha de São Paulo, 32 notícias e no Estadão, 29.

Mas, de tudo o que li, o que mais me chamou atenção foi uma matéria da Revista Exame, que pode até passar despercebida por um leitor menos atento, cujo título é “O país que precisa ser multiplicado”.

Esse suposto país, mostrado na revista, é formado por um pequeno quadrilátero de 57.000 quilômetros quadrados e tem uma população de 30 milhões de habitantes, dos quais quase a metade tem um índice de desenvolvimento humano equiparado ao dos países desenvolvidos. Se esse quadrilátero fosse mesmo um país, seria a 27ª. economia do planeta, à frente de nações como Dinamarca, Argentina, Irlanda e Venezuela.

O pedacinho de mundo em questão produziu, em 2007, mais veículos que a Itália, detém 80% do volume de negócios em ações da América Latina, é sede de cinco dos 30 maiores bancos do planeta, produz 15% do álcool e 10% do açúcar consumidos no mundo e forma 4.000 doutores por ano – mais que México, Argentina e Chile juntos. Além disso, apresenta sete das dez melhores estradas brasileiras e 62 instituições de ensino classificadas como “de excelência”.

Esse suposto país é, pois, um retângulo formado pelas cidades de São José dos Campos, Campinas, Bauru e Santos.

Só nos últimos dois meses, quatro grandes corporações anunciaram investimentos nesse quadrilátero: A Hyundai instalará sua fábrica em Piracicaba e produzirá 1600 empregos diretos; a Avon construirá o maior centro de distribuição mundial em Cabreúva; a KIA anunciou sua fábrica para Salto; e a Toyota investirá 700 milhões de dólares em Sorocaba.

A matéria destaca nossa região justamente por ela estar no meio desse principal centro comercial do país.

Ninguém é ingênuo para não falar ou não pensar em crise.

Mas, cuidado! Crise é uma doença de contágio, e em época de crise muita gente age como hipocondríaco, tomando remédio sem mesmo (ou ainda) estar doente.